Em meio à pandemia do novo coronavírus, muitas teorias sem comprovação científica vêm sendo difundidas tanto na imprensa quanto nas redes sociais, o que pode confundir a população e levar ao uso indiscriminado de medicamentos controlados – inclusive de uso veterinário.

Nos últimos dias, passou a circular a informação de que o uso da ivermectina, uma substância aprovada para uso em animais no Brasil, seria eficaz no tratamento da COVID-19. No entanto, pesquisas conduzidas pelas empresas associadas ao Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan) sugerem que a ivermectina não é efetiva e nem segura para o uso em humanos.

Como forma de colaborar para os esforços de combate ao novo coronavírus, uma força-tarefa científica foi criada para avaliar a eficácia de medicamentos e vacinas de uso veterinário no tratamento da doença. Entre os estudos revisitados, está a publicação recente de Caly et al., que descreveu a inibição da replicação do SARS-CoV-2 in vitro com ivermectina.

No entanto, com base nas concentrações de ivermectina necessárias para obter um efeito antiviral in vitro, chegou-se à conclusão de que a quantidade necessária para atingir exposições semelhantes em humanos excederia significativamente as doses seguras e toleradas – para se obter algum resultado, seria necessária uma quantidade pelo menos 100 vezes acima da dose atualmente aprovada.

Concluímos, portanto, que o uso clínico da ivermectina para o tratamento da SARS-CoV-2 não é viável e nem recomendado.